Na semana que passou, a McLaren anunciou uma mudança importante em seu corpo técnico. Saiu Eric Boullier da direção e entrou o ex-piloto brasileiro Gil de Ferran para o cargo. Gil já vinha fazendo funções na equipe desde o GP de Mônaco e veio como uma indicação de Fernando Alonso, já que o brasileiro funcionou como um consultor na experiência do espanhol nas 500 Milhas de Indianapolis. Ainda que Gil seja uma indicação interessante, sua atuação merece uma analise mais cuidadosa e, por isso, escrevo essa coluna de hoje.
Os meus leitores costumeiros sabem que costumo observar a McLaren de perto, especialmente após o início da parceria frustrada com a Honda. A entrada de Gil de Ferran vem para suceder uma gestão bastante polêmica. Boullier, que vinha para a equipe após um ótimo trabalho à frente da então Lotus, tomou atitudes que nem sempre se mostravam efetivas para o todo.
O trabalho com a Honda nunca foi de uma parceria de fato, exigindo sempre mais e mais da fornecedora e não mostrado vontade alguma de cooperar pelo seu lado para o bem comum. Comentei sobre o assunto em edição passada da coluna e esse descuido levou ao fim da parceria com os japoneses. O tempo mostrou que o problema não estava no fornecedor de motores, pois a Honda anda indo bem com a Toro Rosso, enquanto a McLaren regrediu no grid.
Seus erros também apareceram no âmbito dos recursos humanos com constantes falhas de relacionamento com sua equipe de projetistas. Diria que a gota d’água aconteceu quando os projetistas trabalharam dia e noite por dias para entregar o pacote aerodinâmico a tempo do GP da Espanha e a diretoria premiou o esforço da equipe com… chocolates. Esses dois fatores pressionaram demais o francês e este decidiu pela sua saída. Ainda que não tenha sido uma demissão de fato, Eric Boullier já não tinha mais ambiente dentro da equipe.
Gil de Ferran, assim como com Boullier, é alguém que possui conhecimento no ramo. Filho de um grande engenheiro, que chegou a ser presidente da Ford do Brasil, Gil era um daqueles pilotos metódicos, que conheciam bem a parte técnica do carro. Fez 3 anos de engenharia mecânica antes de largar para se dedicar às pistas. Venceu duas vezes a Fórmula Mundial e uma vez as 500 Milhas de Indianapolis.
Após o fim de sua carreira, seu conhecimento técnico sempre foi bem visto pelo mundo do automobilismo. Foi diretor da BAR-Honda em 2006, com uma passagem sem muitos resultados. Voltou aos EUA e começou uma carreira como dono de equipe na extinta categoria de endurance American Le Mans Series, conquistando o titulo da categoria com Simon Pagenaud como piloto e companheiro. Junto com essa função, fez (e ainda faz) parte da comissão técnica da IndyCar. Após sua experiência na ALMS fechou uma parceria com Jay Penske para uma tentativa na IndyCar, que durou apenas dois anos.
Um currículo desses seria certeza de sucesso, se não fosse pelo seu retrospecto na função. Ainda que ele diga se sentir diferente hoje, Gil de Ferran não se acertou quando foi diretor da BAR-Honda e seu sucesso veio apenas como dono de uma equipe de estrutura pequena, em uma categoria que estava prestes a acabar. Sua passagem na Indy foi ainda mais polêmica, pois entrou na sociedade da Dragon Racing e moldou a equipe como queria.
Dois anos depois, a equipe sofreu um duro golpe com falta de patrocínio e, ao invés de tentar reerguer a equipe, largou a sociedade imediatamente, deixando Jay Penske sem estrutura alguma para continuar na categoria (Penske só conseguiu se reerguer poucos anos atrás, disputando a Fórmula E).
Na época, confesso que fiquei intrigado com a maneira que a equipe acabou e conversei com um famoso jornalista americano do ramo, que confirmou essa minha suspeita. Sendo assim amigos, como podemos ter certeza de sucesso com alguém que se mostrou tecnicamente pronto, mas com passado de erros e ética duvidosa?
Não estou aqui para malhar um dos melhores pilotos que o Brasil já teve e acredito piamente que Gil de Ferran aprendeu com tais erros. Agora, com 50 anos, esse colunista acredita que Gil seja um profissional mais maduro, que vai saber comemorar seus sucessos e aceitar seus erros. Sinto que os sucessos serão a maior parte de sua nova função e que o ex-piloto aprendeu com seus erros do passado, tornando-o assim um homem melhor, pessoal e profissionalmente.
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